Sussurro da morte [Larissa Prado]

Os lábios finos, quase inexistentes, de uma textura flácida e amarela escondiam os dentes redondos e fortes, placas de porcelana. Ela gostava de sorrir. O tempo inteiro tinha aquele esgar de boca que se contentava com pouco para revelar os dentes alinhados, perfeitos não fosse o tamanho desproporcional. A mandíbula parecia não sustentar o tamanho da arcada dentária. Por onde passava distribuía sorrisos antinaturais. Aqueles que eram alvo costumavam enrolar a corda no pescoço, arremessar o carro da ponte ou alojar uma bala no palato. Ela não precisava de muito para derramar sangue, bastava aquele sorriso. As malditas placas de um branco cintilante condenavam os olhares desavisados. O deslumbrante sussurro da morte se parecia muito com uma risada tímida, suave e maldita.

Sussurro da morte - Daniella Salamão