Nadar indefinidamente [Larissa Prado] Tenho receio que minhas mãos se tornem porosas como as paredes da casa abandonada da minha infância. Que se tornem parte de um corpo desmembrado pelo tempo, pelas memórias bloqueadas. Porque minhas mãos são tudo o que me resta depois de tudo. Olho para elas e vejo mapas de linhas indefinidas, pontilhadas. Perdi as digitais, trabalho com produtos químicos há muito tempo e me tornei artificial como um produto embalado com plástico chinês. Eu tenho receio que você também se torne parte das minhas mãos que se desmancham, que se torne lenda, uma história recriada tantas vezes que perdeu o frescor original. Há muito medo me mim hoje, depois de tantos anos. Caminho de volta para a incerteza da infância onde casacos se tornavam monstros nas sombras. Os traumas da infância são as engrenagens que fazem nossas peças adultas funcionarem, ninguém está livre, ninguém está a salvo. Você sabe quanto tempo uma pessoa viveu pelos sinais nas mãos. É por isso que te e...
Fantasmagórica
transformamos pesadelos em arte